segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Tratemos do ócio

Presentemente, poucas coisas são tão difíceis de se lidar para nós quanto o tédio. O ócio, puro e simples. O existir por existir, sem estar atrelado a uma tarefa, qualquer que seja.

Acho complicadíssimo definir um único culpado para isso, esse ato tão inofensivo que é a existência pacífica, a vida mansa. Eu mesmo não consigo ficar parado por longos períodos sem me sentir incomodado, ou, melhor ainda, culpado. No momento em que escrevo este texto, estou de férias, tanto da faculdade quanto do trabalho, de forma que minhas únicas preocupações se restringem apenas ao reino das relações pessoais e das responsabilidades do dia a dia (ajudar em casa, passear com o cachorro, fazer compras etc).

Acho que estamos desacostumados a ouvir nossos próprios pensamentos. É desconfortável. A reflexão, ao menos para mim, frequentemente conduz a uma tristeza imensurável, difícil de expor em palavras. Contudo, sinto que não necessito fazê-lo, uma vez que de tal trabalho já se ocupou Fernando Pessoa magistralmente. Faço das palavras dele (ali postas sob a assinatura de Bernardo Soares) as minhas.

Há também uma pressão idiotamente imposta sobre todos, a da produção constante, a tal da Produtividade. Afinal, de que vale o seu dia se você não trabalhou, não estudou, ou coisa do tipo. Sei muito bem que tudo não passa de uma grande falácia, mas é difícil se livrar de pensamentos tão profundamente enraizados em si, no senso comum, na sua criação: ter um pai que mal aproveita as suas folgas e que trabalha das 8 às 16 faz você se sentir um inútil por ficar parado. Racionalmente, não faz sentido nenhum, até porque não tenho obrigação alguma; emocionalmente, menos ainda, mas cá estamos.

Frequentemente me encontro pensando em Hobbits. Os pequenos carinhas da Terra-Média. Esses sim sabem como viver. Todos habitando o pequeno território do condado, com pequenas plantações e alguns bichinhos de criação, com muitas refeições ao longo do dia e bastante cultivo de ócio e festança, evitando a exaltação dos ânimos e fortes emoções. Penso muito neles porque os invejo. Imagine só, viver dessa maneira.

No momento não faço a menor ideia de como lidar com essa desinquietação que sinto no ócio. Procuro maneiras de aproveitá-lo melhor, mas até agora nada. Quem sabe até o fim das férias encontro uma forma de aproveitá-lo da melhor forma possível. Torçamos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

24 horas para quem?

  Certo, é o seguinte, eu sei que já faz um bom tempo desde a minha última publicação, praticamente um ano na verdade (se é que já não faz u...