Presentemente,
poucas coisas são tão difíceis de se lidar para nós quanto o tédio. O ócio,
puro e simples. O existir por existir, sem estar atrelado a uma tarefa,
qualquer que seja.
Acho
complicadíssimo definir um único culpado para isso, esse ato tão inofensivo que
é a existência pacífica, a vida mansa. Eu mesmo não consigo ficar parado por
longos períodos sem me sentir incomodado, ou, melhor ainda, culpado. No momento
em que escrevo este texto, estou de férias, tanto da faculdade quanto do
trabalho, de forma que minhas únicas preocupações se restringem apenas ao reino
das relações pessoais e das responsabilidades do dia a dia (ajudar em casa,
passear com o cachorro, fazer compras etc).
Acho
que estamos desacostumados a ouvir nossos próprios pensamentos. É
desconfortável. A reflexão, ao menos para mim, frequentemente conduz a uma
tristeza imensurável, difícil de expor em palavras. Contudo, sinto que não
necessito fazê-lo, uma vez que de tal trabalho já se ocupou Fernando Pessoa
magistralmente. Faço das palavras dele (ali postas sob a assinatura de Bernardo
Soares) as minhas.
Há
também uma pressão idiotamente imposta sobre todos, a da produção constante, a
tal da Produtividade. Afinal, de que vale o seu dia se você não trabalhou, não
estudou, ou coisa do tipo. Sei muito bem que tudo não passa de uma grande
falácia, mas é difícil se livrar de pensamentos tão profundamente enraizados em
si, no senso comum, na sua criação: ter um pai que mal aproveita as suas folgas
e que trabalha das 8 às 16 faz você se sentir um inútil por ficar parado.
Racionalmente, não faz sentido nenhum, até porque não tenho obrigação alguma;
emocionalmente, menos ainda, mas cá estamos.
Frequentemente
me encontro pensando em Hobbits. Os pequenos carinhas da Terra-Média. Esses sim
sabem como viver. Todos habitando o pequeno território do condado, com pequenas
plantações e alguns bichinhos de criação, com muitas refeições ao longo do dia e
bastante cultivo de ócio e festança, evitando a exaltação dos ânimos e fortes
emoções. Penso muito neles porque os invejo. Imagine só, viver dessa maneira.
No
momento não faço a menor ideia de como lidar com essa desinquietação que sinto
no ócio. Procuro maneiras de aproveitá-lo melhor, mas até agora nada. Quem sabe
até o fim das férias encontro uma forma de aproveitá-lo da melhor forma
possível. Torçamos.